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voo MH370 pode estar no afeganistão

O jornal russo Moskovsky Komsomolets divulgou nesta quarta-feira (9) supostas informações sobre o avião da Malaysia Airlines desaparecido há mais de um mês. Segundo uma fonte anônima — que supostamente pertence a um serviço de segurança nacional não identificado —, os passageiros do voo MH-370 estariam vivos em Candahar, no Afeganistão, próximos a uma das fronteiras do Paquistão. A ação seria decorrente de um atentado terrorista.
De acordo com informações do jornal, os passageiros estariam divididos em sete grupos para melhor organização dos sequestradores. Para ele, os especialistas que estavam no voo seriam utilizados nas negociações com o governo americano ou chinês.
O avião estaria com uma das asas quebrada.
O especialista em investigação de acidentes Evgeny Kuzmin, confirmou que um avião daquele modelo poderia pousar em uma estrada de terra convencional, livre de árvores ou montanhas. Ele explicou também que se o pouso for emergencial ou em local inapropriado, pode quebrar parte dele, principalmente a asa.
Entretanto, as informações divulgadas pelo jornal não coincidem com as divulgadas pelo governo malaio.
O jornal também entrevistou Sergey Melnichenko, membro da Fundação russa de Segurança de Voo, que informou que a Tailândia, a Índia e o Paquistão não têm o costume de rastrear aeronaves. Por isso, ele acredita que de fato o MH-370 pode não ter sido rastreado.
Na última segunda-feira (7), o governo da Austrália que comanda as buscas pelo avião desaparecido detectou dois sinais parecidos com os emitidos pelas caixas-pretas. A primeira transmissão teria durado duas horas e vinte minutos e a segunda, apenas 13 minutos.
A informação de que a aeronave não teria caído no mar não foi confirmada pelas autoridades.


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lagrimas que alimentam o odio

Ao jovem Jefferson
O jovem Jefferson Rodrigues da Silva, de dezoito anos, foi morto a tiros por fuzileiros navais no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Na versão oficial, trocou tiros com os soldados que responderam ao fogo causando a baixa.
A Polícia Militar e o Exército ficam sempre muito bravos quando se coloca em dúvida as versões oficiais. Mas, vejam bem, outras versões oficiais que nos foram apresentadas: Amarildo, pedreiro sequestrado, torturado e assassinado por policiais militares da UPP da Rocinha, teria, na versão oficial, sido morto por traficantes; Claudia, atingida por dois disparos da polícia e que foi jogada na parte de trás de uma viatura e acabou sendo arrastada pelas ruas do Rio, teria sido apenas socorrida pela polícia; Giovanni, jovem que foi atingido por tiros pelas costas ao sair de casa de bermuda e boné quando a Polícia Militar entrava em seu bairro, e que, já caído, ao seu lado foi deixada uma quantidade de drogas e um revolver que não lhe pertencia, na versão das autoridades é um traficante que trocou tiros e tentou fugir; Herzog se enforcou em sua cela, mesmo que de uma altura na qual seria impossível tal ato; o golpe burguês e militar de 1964, que rompeu a Constituição e abriu décadas de terror e arbítrio, teria sido, na versão oficial, a reação das forças democráticas contra a provocação de comunistas que queriam fazer reformas de base, que ameaçavam a família, a religião e os bons costumes.
Há uma perversidade extra na guerra das versões. Jefferson tinha 18 anos, morava em uma enorme área abandonada desde sempre pelos poderes públicos, sem condições mínimas de saneamento, tampouco acesso a serviços essenciais, esquecida pelas verbas de infraestrutura, na qual impera o medo permanente, seja do crime organizado, seja do aparato policial corrupto e violento que vive em simbiose com a criminalidade e dela se alimenta.
O fato de Jefferson ser um trabalhador – alvejado como um efeito colateral (como tantos já foram) e agora tornado criminoso para ocultar sua morte – ou um jovem que naquela situação descrita vivia dos rendimentos da lucrativa atividade do tráfico e estava armado defendendo-se da invasão militar, não muda a tragédia do caso. Para boa parte da juventude estas são as opções: sobreviver em precárias condições e morrer de “bala perdida”, ou resistir armado e morrer em conflito com o aparato repressivo. Muitos decidem viver menos e viver melhor com os ganhos do tráfico, o prestígio e poder de, pelo menos, estar armado.
O BOPE quando subia os morros com o malfadado “caveirão” tocava em seus alto-falantes uma mensagem que dizia: “em bandido a gente atira com fuzil, em trabalhador é tapa na cara”. É compreensível que alguns decidam por estar, pelo menos armados, ao invés de tomar tapa na cara, levantar as mãos e virar para o muro enquanto são revistados.
Ali mesmo, no Complexo da Maré, que margeia a Linha Vermelha que leva os turistas do Galeão privatizado até a cidade maravilhosa, o poder público tomou uma iniciativa paradigmática. Não foram obras de infraestrutura, de implantação de serviços, ou mesmo de segurança pública (de uma verdadeira segurança… pública), do desenvolvimento dos serviços básicos como saneamento, educação ou saúde; foi, ao invés disso, o levantamento de anteparas sobre a murada da via que cobriam a visão das favelas e nestes painéis foram colocadas reproduções de desenhos, muitos feitos por crianças, com uma imagem idealizada e idílica do Rio e da própria favela.
Parece que esta iniciativa representa bem uma concepção. Esconder o real com uma representação idealizada que oculta e inverte a realidade. Nós, marxistas, chamamos isso de ideologia.
Ocorre que o real oculto segue existindo e suas contradições um dia explodem, fica impossível escondê-las. Já tiramos do centro e jogamos para a periferia, já ocultamos por painéis, já amenizamos com políticas pontuais, fragmentárias e insuficientes, já tentamos calar as vozes dissidentes a golpes de balcão de projetos e ONGs, bem ou mal intencionadas, mas simplesmente cresce o trafico, a repressão policial, as mortes, os autos de resistência… Como nada parece dar certo, então, eles mandam o exército, seus tanques de guerra e seus soldados, treinados no Haiti – que, Caetano já alertava, é aqui.
Na Portaria Normativa n. 3.461 do Ministério da Defesa, que estabelece as chamadas Operações de garantia da Lei e da Ordem (OpGLOs), encontramos uma espécie de confissão quando afirma que tais operações “tem por objetivo a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio emsituações de esgotamento dos instrumentos para isso previstos no art. 144 da Constituição ou em outras em que se presuma ser possível a perturbação da ordem” [grifos meus].
Ocorre que o “esgotamento” não é dos instrumentos previstos, é de toda a concepção de sociedade sobre a qual eles se assentam. Como é difícil encarar esta verdade, vamos nos enganando que um intensificação da mesma lógica pode um resolver nosso problema. É como se nós tivéssemos um grande vazamento de água em nossa casa, causado pelo rompimento de uma tubulação, e acreditássemos que o problema é o tamanho do balde e a qualidade do pano que usamos para enxugar o chão.
O arremedo de política social e gotas de empreendedorismo, assim como a presença repressiva militar não deu certo, ora, mandamos o BOPE, não deu certo, ora mandamos as Forças Armadas. E se não der certo? Vamos fazer campos de concentração e fornos crematórios? Para que nenhum cidadão de bem seja confundido com um “marginal” vamos cortar seus cabelos, obrigá-los a usar pijamas listrados e pregar estrelas amarelas em seus peitos?
A ordem capitalista já resolveu este dilema. A segregação espacial de classes já criou os guetos modernos, a herança escravista colonial já pintou de preto as classes perigosas facilitando o trabalho da polícia e das forças armadas. Às vezes se mata uma dona de casa, uma criança, um jovem trabalhador, mas são efeitos colaterais na sagrada “guerra” contra o crime em defesa da lei e da ordem. Ninguém mandou eles parecerem tanto com as “forças oponentes”, são pobres, pretos, andam provocativamente de bermuda e chinelo, moram nas favelas, olham para a polícia com medo ou, pior, com o que lhes sobra de dignidade.
Certo, nos sabemos que tem gente rica no comando, organizando e lucrando muito com o tráfico de drogas e armas. Quando aparece na televisão o “grande chefe” do tráfico, morando na favela, mesmo os mais convictos em sua ingenuidade não acreditam que por trás dele não tem algum figurão com conexões em altos escalões, contatos com a própria polícia e políticos influentes. Bom, então, porque não vemos os tanques cercando a Vieira Souto, os condomínios de luxo na Barra, o caveirão entrando no Congresso Nacional e aqueles deputados e senadores com a mão na parede e pernas abertas sendo revistados sob a mira de um fuzil?
É que eles andam de terno, parecem gente de bem, da nossa “melhor sociedade”. Guardamos a forma repressiva, violenta e arbitrária para nossa “pior sociedade”. Enquanto o lixo humano, os dejetos incômodos de uma sociedade de riquezas e ostentação de luxo, estiverem escondidos e em ordem, tudo bem. Mas, se quiserem ocupar um terreno no centro, abandonado por uma pirata (ou corsária, já que pratica pirataria oficialmente… Oi?) das telecomunicações, aí não, enfeia a cidade maravilhosa. Aí chama a guarda pretoriana, chama a SS, chama os camisas pretas, chama a Gestapo e tira esse povo feio, preto e mau vestido, sem senso arquitetônico adequado, sem licitação e, pior, sem caixinha ou financiamento de campanha para as autoridades constituídas.
No fundo é o mesmo princípio da reforma do prefeito Pereira Passos que eliminou os cortiços no início do século e tentou imitar Paris e seus belos jardins, ou de outros que jogavam mendigos no mar, ou de Clinton que mandou tirar os pobres desempregados que dormiam sob a marquise do local no qual os democratas queriam fazer sua convenção e anunciar medidas importantes para combater a pobreza.
Para realizar estas medidas de ocultamento da pobreza estruturalmente determinada, até pela violência explicita que envolve tal ato, é preciso, assim como na Maré, um tapume ideológico. A mesma portaria normativa citada prevê isso naquilo que denomina de “Batalhão de Operações Psicológicas” (B Op Psico) que teria, entre seus objetivos “obter a cooperação da população diretamente envolvida na área de operações, desenvolvendo uma atitude contrária às F Opn [Forças Oponentes] e outra favorável às forças empregadas”.
Um enorme tapume entorno da pobreza e das áreas de conflito, cercas protegendo os lugares nos quais se darão os grandes eventos esportivos, placas que impedem a visão da favela por toda a rota que leva os turistas até os hotéis e ruas cercadas até os estádios. O problema é que vai ser difícil esconder todas as contradições embaixo do tapete ideológico, mesmo com as Forças Armadas no comando da vassoura repressiva. Os pobres insistem em estar por todos os lados, como disse certa vez a rainha Elizabeth da Inglaterra “Pauper ubique jacet” (o pobre está prostrado em toda parte). Que fazer, então? [ver: Karl Marx, O capital, livro I, p. 793]
Bom, sugerimos óculos com telas de cristal líquido e imagens editadas e transmitidas diretamente do centro de operações da Policia Militar e da central Globo de jornalismo, que seriam distribuídos a cada um que chegasse ao Brasil. Melhor seria distribuí-los antes do desembarque para já operarem vendo aeroportos com as reformas concluídas e funcionando perfeitamente.
No país da Copa não pode ter pobre sendo espancado pela polícia. Não pode um representante da Lei e da Ordem chamar uma menina de “macaca favelada” e desferir um murro em sua boca quebrando seus dentes, não pode um policial atirar e deixar uma pessoa cega ou mutilada, como na desocupação do terreno da Oi. Não pode ter greves, manifestações e ônibus incendiados. Não pode uma filha chorando com sua mãe baleada nos braços e perguntado ao policial que ria “por que… minha mãe não era bandida… por que?” Não pode o exército assassinar a tiros um jovem de 18 anos, seja ele ou não um infrator.
Não sei se o jovem Jefferson era ou não um criminoso. Recolho seu corpo e sinto em mim mesmo sua dor, é meu sangue que se esvai no chão da Maré. Sinto o tiro do fuzil assassino varando seu peito e abrindo um abismo de dor no coração de seu pai. Posso, em um relance, ver os filhos que não irão buscar seu abraço fantasma, as bocas que nunca sentirão o calor de seus lábios. Recolho mais este sacrifício no interminável martírio de nossa classe e o engulo com as lágrimas que alimentam meu ódio profundo. Eu os acuso!
Não apenas o infeliz soldado que puxou o gatilho e seu comandante, engrenagens da máquina de morte, mas também aqueles que se escondem atrás de seus cargos: Senhor Ministro da Defesa que pediu aos militares que escrevessem a portaria, senhor Ministro da Justiça de um pais injusto que permite que a Constituição seja suspensa e desfigurada, senhora Presidente Dilma Rousseff que assinou os atos que tornou legal o massacre, senhor governador (o ex e o atual) escondido covardes em seus escritórios: eu os acuso! A vergonha os acompanhará para sempre. Suas mãos estão sujas de sangue… jamais conseguirão lavá-las desta ignomínia.
Manifestantes fecham a pista central da Av.Brasil por alguns minutos depois de morte de Jefferson Rodrigues da Silva (Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia)
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Mauro Iasi assina o posfácio do novo livro de Slavoj Žižek, Violência: seis reflexões laterais. A edição brasileira, que chega às livrarias em maio, vem acrescida ainda de um prefácio inédito do filósofo esloveno, escrito especialmente para o momento sombrio em que vivemos no país.
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Mauro Luis Iasi é um dos colaboradores do livro de intervenção Cidades Rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil, organizado pela Boitempo. Com textos de David Harvey, Slavoj Žižek, Mike Davis, Ruy Braga, Ermínia Maricato entre outros. Confira, abaixo, o debate de lançamento do livro no Rio de Janeiro, com os autores Carlos Vainer, Mauro Iasi, Felipe Brito e Pedro Rocha de Oliveira:
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Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por Marcos Del Roio. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.]
http://blogdaboitempo.com.br/2014/04/16/a-versao-e-os-fatos-lagrimas-que-alimentam-meu-odio/

doutrinação nazista no plano nacional de educação

"O preciosismo ideológico da maioria petista na Câmara é tanto que o projeto do Executivo foi reescrito na novilíngua orwelliana: sempre que apareciam expressões como “os estudantes”, “os alunos”, “os profissionais da educação”, foram acrescentadas as partículas “os/as”, tornando o texto ilegível: “os(as) estudantes”, “os(as) alunos(as)”; “os(as) profissionais de educação”. O Senado, primando pela boa técnica legislativa e pelo bom senso antropológico, suprimiu todos esses penduricalhos feministas do texto, para indignação do deputado Ângelo Vanhoni, que, em seu relatório, já recomendou a recomposição da vulgata feminista da Câmara. Caso o Plano Nacional de Educação seja aprovado, em definitivo, com essa redação sexista (isso mesmo: sexista), a nação brasileira corre o risco de ter sua língua sequestrada pelos ideólogos de esquerda. Não tardam e hão de querer revisar o texto da própria Constituição para adicionar-lhe esses penduricalhos de mau gosto."

"Ao querer neutralizar as palavras de suas eventuais cargas negativas, a esquerda revela seu espírito totalitário, pois uma língua que não soubesse exprimir desigualdade, preconceito e ódio não seria uma linguagem humana e mataria seus falantes de angústia. A propósito, os ideólogos que não acreditam nas determinações sociais do sexo biológico e acham que tudo é construção de gênero saberiam me dizer se o masculino de “babá” é “babão”? Como se vê, um Plano Nacional de Educação que, no país do analfabetismo funcional, negligencia o mérito, incita a escola contra a família e, em vez de estimular a leitura, policia as palavras, transformando a língua num instrumento de opressão ideológica, nada tem a ver com ensino – é apenas uma doutrinação totalitária que tenta fazer da escola uma incubadora de subversões."


fonte:http://juliosevero.blogspot.com.br/

pesquisas não mostram a verdade como ela é

Está claro que muito dessa marola é ação deliberada de quem sabe ganhar dinheiro ao jogar com as expectativas alheias. Mas ela também nasce da velha torcida, de quem enxerga nas pesquisas aquilo que quer.
Quando se compara o Brasil com os países avançados, chega a ser patético o comportamento de nossos políticos e “formadores de opinião”. Tratar uma pesquisa (feita a distância que estamos da eleição) como algo fundamental, dar-lhe importância suficiente para definir o que fazer na política ou na economia, são sinais de subdesenvolvimento e ignorância. Nas democracias maduras, as pesquisas, de tão habituais, tornaram-se elementos quase imperceptíveis da cultura política. Aqui, ainda vão para as manchetes e causam estardalhaço.
Nosso povo é mais sábio. Ao contrário das elites, o cidadão olha as pesquisas com distância e prudência. Toda vez que se fazem levantamentos qualitativos com eleitores das classes populares, enxerga-se uma atitude de curiosidade cautelosa: sabem que existem, conhecem os resultados e os incorporam em interpretações mais amplas do que está em jogo em uma eleição. A velha e surrada suposição de que “os pobres votam em quem está na frente” é um simples preconceito.
Nada do que acontece agora é novidade. Nas duas eleições anteriores comparáveis a esta (em que o presidente em exercício era candidato), o quadro de opiniões em março/abril não era diferente. Tanto em 1998 quanto em 2006, o cenário era notavelmente parecido com o de hoje.

fonte:http://desabafopais.blogspot.com.br/2014/04/eleicao-2014-aprender-com-historia.html

produzindo alimentos ou mortes

O percurso histórico de agravamento das desigualdades produtivas e da fome, no século XX, é coincidente com o da história das principais multinacionais.

Ricardo Vicente - Esquerda.net
Esquerda.net

Atualmente os discursos políticos e técnicos dominantes nas sociedades ocidentais condicionam brutalmente a opinião de qualquer cidadão sobre o que é hoje a agricultura no mundo. Propagam-se as ideias sobre os avanços tecnológicos da ciência e a sua facilidade de acesso: a mecanização, a comunicação, os processos de automatização, as ferramentas biotecnológicas, a obtenção de novas variedades, etc.

A sociedade absorve a ideia de que a população mundial é suportada por uma espécie de agricultura industrializada. Esta ideia é falsa, mas é sobre ela que se desenham e promovem políticas que são aplicadas local e globalmente. A agricultura é muito diversa e bastante desigual. Esta situação é fácil de constatar, não apenas comparando países "desenvolvidos" com países pobres mas também dentro de cada país.

Segundo Mazoyer e Roudart (2001), 80% dos agricultores em África e 40 a 60% na América Latina e Ásia apenas dispõem de utensílios manuais e, entre estes, só 15 a 30% têm tração animal. Referem os mesmos autores que a diferença de produtividade do trabalho entre a agricultura manual menos produtiva do mundo e a agricultura motorizada e mecanizada mais produtiva, no espaço de um século (o séc. XX), passou de 1:10 para 1:500. No caso dos cereais, afirmam que um trabalhador isolado, na melhor situação, consegue produzir 2.000 toneladas, enquanto que, na pior situação, uma família produz apenas 1 tonelada, no espaço de um ano. Estas duas realidades encontram-se hoje, frequentemente, separadas não por um oceano mas por um muro ou vedação.
Pensar e desenhar políticas agrícolas significa intervir sobre a vida de todos nós, mas em especial sobre a vida de uma grande fatia da população mundial que depende diretamente da agricultura enquanto atividade económica e de subsistência, cerca de 27% (FAO, 2010). Os dados da FAO relativos à população agrícola do ano 2010 mostram um globo onde a agricultura e a produção de alimentos andam a velocidades muito diferentes: 49% da população africana; 56% da África Central; 39% da Ásia; 47% da Ásia do sul; 16% da América Latina; 1,7% da América do Norte; 5,9% da Europa; 2% da Europa Central; 4,4% em Espanha; 10,3% em Portugal.


É sobre esta realidade desigual que se desenham acordos e políticas internacionais que interferem diretamente nas atividades agrícolas, mas é também neste quadro que atuam as diversas empresas multinacionais produtoras e distribuidoras de fatores de produção. Não por mero acaso, o percurso histórico de agravamento das desigualdades produtivas e da fome, no século XX, é coincidente com o da história das principais multinacionais que ainda hoje atuam no mercado mundial.

Foi no decorrer dos anos 60 e 70 que todo o processo se acelerou, com o surgimento crescente de variedades híbridas, adubos e pesticidas, possibilitando o melhoramento da relação semente-fertilizante e consequentemente o grande aumento das produções. Este processo ficou historicamente conhecido por revolução verde. Nos países e regiões mais pobres, onde eram maiores os riscos de fome consequentes do aumento da população e da fraca capacidade produtiva dos sistemas agrários, as consequências foram desastrosas.
A maioria dos novos saberes e tecnologias não chegaram aos agricultores locais e as poucas que chegaram retiraram-lhes a autonomia, criando dependências entre agricultores e empresas fornecedoras de fatores. Na história destas empresas abundam as situações fraudulentas que provocaram a destruição de recursos endógenos e criaram dependências dos seus negócios.
Surgiram diferenciais de produtividade brutais com a entrada em funcionamento de unidades produtivas modernas, os preços dos alimentos caíram, muitos agricultores abandonaram a atividade, destruíram-se redes de distribuição locais e surgiram novas dependências alimentares que espalharam a fome e o desespero. Iniciou-se uma mudança de paradigma, passou a haver produção de alimentos suficiente para alimentar a população mas a fome agravou-se devido à impossibilidade de acesso aos alimentos.

Todas as atuais principais empresas de produção e distribuição de sementes, adubos e pesticidas têm um histórico de atividade que iniciou antes ou durante a revolução verde e quase todas já tiveram reestruturações decorrentes da fusão com outras empresas. Há quase um século que atuam numa área de atividade onde o negócio é garantido e ainda não parou de crescer. Se analisarmos as suas histórias, facilmente constatamos que os seus negócios cresceram sem regras nem princípios, ao lado dos interesses financeiros e políticos das maiores potencias mundiais.

Alguns fatos históricos sobre as principais empresas multinacionais que operam no mercado se sementes, pesticidas e adubos:

Monsanto:
Surge em 1901 com a produção de sacarina. Produz vários equipamentos para a 2ª guerra mundial; em 1945 entra no negócio dos pesticidas; em 1960 é uma das principais produtoras de agente laranja, herbicida com efeito desfolhante aplicado na guerra do Vietname e que provocou sequelas brutais nos soldados e na população local; em 1964 lança o primeiro herbicida seletivo pré-emergência para a cultura do milho.

Syngenta:
Surge apenas em 1999, mas resultou de uma fusão empresarial onde se destacava a Geigy, que se fundou em 1935 e produzia inseticidas; em 1974 entrou no negócio das sementes.

Bayer:
Surge em 1863 como produtora de corantes e mais tarde dedica-se à indústria farmacêutica. Prestou serviços à Alemanha de produção de equipamentos necessários às duas guerras mundiais; Em 1956, Fritz ter Meer, depois de sete anos de prisão consequentes de colaboração em ensaios em seres humanos e tráfego de escravos provenientes de um campo de concentração em Aushwitz, foi nomeado presidente do conselho de supervisão da Bayer.

DuPont:
Iniciou em 1802 com a produção de pólvora; Produziu equipamentos para as duas guerras mundiais; Em 1943 participa no Manhattan Project e no desenvolvimento de uma bomba nuclear; Entre 1997 e 1999 comprou absorveu a empresa Pioneer, uma das maiores empresas que atuava no mercado mundial de sementes (desde 1926), altura em que lançou o primeiro milho híbrido comercializado. Em 1960 lança o inseticida Lanate.

Limagrain:
Surge em 1942 com a produção e venda de sementes.

BASF:
Fundada em 1865 iniciou atividade com a produção de corantes. Em 1913 sintetizaram amónio pela primeira vez. Produziram diversos equipamentos para as duas guerras mundiais. Em 1949 lançam um novo negócio com o herbicida U46.

DOW:
Foi criada em 1897 com um negócio de venda de descolorantes e sais. Forneceu materiais diversos para as duas guerras mundiais; nas primeiras duas décadas do século XX assumiu-se como um dos maiores produtores de pesticidas; entre 1951 e 1975 desenvolveu armas nucleares; entre 1965 e 1969 forneceu napalm e agente laranja para a guerra do Vietname.

Potash Corp
O histórico da empresa remonta a 1975, quando o Governo de Saskatchewan, Canadá, decidiu nacionalizar e agrupar o negócio de um conjunto de empresas estratégicas que operavam pelo menos desde 1950 na extração e venda de potássio e derivados. Em 1989 o grupo foi privatizado.

Mosaic Company
Foi lançada em 2004, nos Estados Unidos, e resultou da fusão de duas empresas, a Cargill e a IMC-Global que tinha histórico de atividade desde 1909.

Yara
Fundada em 1905, 10 anos depois, durante a primeira guerra mundial, fornecia nitratos de cálcio e de amónio à Alemanha e aos Aliados.

OCP Group
Formado em 1920, em Marrocos, na extração e comercialização de fósforo e derivados.
(*) Ricardo Vicente é engenheiro agrônomo. Publicado em Esquerda.net
Fonte Carta Maior
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=3b5166ef147b143fedd04b1c4a64900b&cod=13438